Possibilidades em Terapia Ocupacional
Márcia Cristina Garcia Rogério
Terapeuta Ocupacional, professora da ESEHA (Escola Superior de Ensino Helena Antipoff), Supervisora Docente do Setor de Terapia Ocupacional Geral da Associaão Pestalozzi de Niterói. E-mail: rogerio.ze@superig.com.br
Denise de Moraes Simões
Terapeuta Ocupacional, Supervisora Responsável do Setor de Terapia Ocupacional Geral da Associaão Pestalozzi de Niterói.
Eduarda M. Guaraná, Fernanda de Sousa Marinho, Francine Dias, Janaina Faria de Carvalho, Juliana Lopes Costa, Sara da Hora Ferreira da Silva (Acadêmicas do Curso de Terapia Ocupacional da ESEHA e Estagiárias do Setor de Terapia Ocupacional Geral da Associaão Pestalozzi de Niterói).
O presente estudo foi desenvolvido como atividade complementar de estágio no setor de Terapia Ocupacional Geral da Associação Pestalozzi de Niterói,RJ, e objetiva fazer uma releitura de pontos importantes do estudo da ação do Terapeuta Ocupacional, assim como das várias possibilidades de ver o OUTRO, o cliente, a atividade, o material e a interação provocada pelas várias relações que se estabelecem durante o processo terapêutico ocupacional, principalmente quando se trata de uma clientela com desabilidades físicas, associadas às sensório-percepto-cognitivas, sociais e emocionais.
Este estudo pode ser visto como analítico, uma vez que se partiu de estudos bibliográficos e se ampliou a pesquisa pela observação e acompanhamento de pacientes em diversas situações de saúde física e mental.
A clientela é em sua maioria de baixa renda e sem importante suporte familiar.
O tratamento terapêutico ocupacional desenvolveu-se através de atividades de diferentes naturezas e em diversos estágios de desenvolvimento do problema que os levou à busca do tratamento.
Cada acadêmico responsabilizou-se pelo estudo de um determinado material que foi posteriormente analisado, interrelacionado e condensado por todo o grupo.
Há muito tempo os estudos vêem mostrando que, considerar o corpo como uma “máquina que pode ser analisada em termos de suas peças”1, e a doença encarada como uma desordem ou mau funcionamento de uma ou mais de suas engrenagens, constitui-se numa visão por demais reducionista do homem destituindo-o de toda e qualquer possibilidade de autonomia e transformação em relação a si mesmo. O modelo biomédico há muito mostrou-se insuficiente frente às novas situações do processo saúde-doença, em que se percebe nitidamente a indissociabilidade entre corpo e mente. Sabe-se que não s essa interação se faz, que o homem influencia e é influenciado por seu grupo, sua comunidade, seu social. Nasceu, então, a visão do homem como ser bio-psico-social.
“Ao longo do tempo, a compreensão dos paradigmas estabelecidos levou-me a duvidar de sua aplicabilidade a todos os campos do saber humano, as regras estabelecidas pelas ciências não alcançam a plena essência humana, já que partem sempre do homem conceituado como o ser do corpo e da mente, aí permanecendo como objeto do conhecimento. Apelei para algo que, em não desfazendo esta relação e dela partindo, a ultrapasse: apelei para o Espírito. E esse, os paradigmas da pesquisa científico-universitário não alcançam.” (Rui Chamone Jorge)
Atualmente o entendimento se amplia e começamos a despertar para uma abordagem holística em saúde, em que o homem sujeito e “agente em seu plano terapêutico e não mero receptor de uma ação técnica desvinculada de seu contexto e de seu saber.”2 Encontramos o homem como pessoa sob e sobre os efeitos de uma história de vida carregada de situações que favorecem o aumento ou regressão de auto estima, da imagem corporal, da identidade. Essa forma de ver o homem e, conseqüentemente, o respeito desencadeado à sua individualidade, transforma a relação terapeuta-paciente em todos os níveis, permitindo, inclusive, o desenvolvimento de um setting terapêutico ocupacional rico em possibilidades de novas experiências.
Independentemente da área de ação da Terapia Ocupacional, o seu desenvolvimento “reside no uso de atividades de forma livre e criativa e na compreensão de que esta ação é geradora de conhecimento e, portanto, de um novo homem.”2 A visão global e totalizadora da Terapia Ocupacional possibilita recuperar a essência do Homem e de seu fazer, estabelecendo na relação paciente-atividade-terapeuta um universo de alternativas para a expressão e elaboração de sentimentos, valores, saberes, enfim, da representatividade da singularidade do indivíduo-sujeito em sua comunidade.
Se a base da Terapia Ocupacional é a ação e toda ação implica uma reflexão, o trabalho, além de seu caráter social, torna-se grande instrumento formador da consciência do homem, de uma nova consciência de si e da realidade a sua volta. “O homem pensa porque tem mãos.” – tese de Anaxágoras, pode ser entendida como a possibilidade de reflexão que toda ação, toda atividade, seja ela manual ou não, todo sentimento, traz ao indivíduo. O fazer, seja ele material, intelectual, corporal, implica em movimento interno que promove o crescimento do sujeito que reflete no que faz e a partir do que fez, revendo posições, atitudes, valores; assim independente da ação Terapêutica Ocupacional se dar no campo das funções físicas, intelectivas ou mentais, pode-se observar a importância da materialização de tudo o que envolve o sujeito. Segundo Fayga Ostrower, “a forma converte e expressão subjetiva em comunicação objetivada”, e como forma podemos entender não só a atividade concreta, envolvendo a plástica, mas todo tipo de comunicação como a música, a dança, o comportamento, os gestos, enfim, tudo o que de maneira não verbal seja carregado de significado. Este é o lugar e a ação que define a Terapia Ocupacional no seu status de Ciência.
Ciência ?! Toda ciência está diante de um problema a ser elucidado e de conceitos que possibilitem ao cientista-profissional compreender e descrever o que é observado. Na Terapia Ocupacional, enquanto ciência, esse sistema de três elementos, Objeto-Sujeito-Imagem, abrem a visão de três ramos para o domínio, demonstra que “existe um sujeito, que interage com materiais, produzindo objetos e, estes, possibilitarão o conhecimento do sujeito sobre ele mesmo, e, ainda, o aprimoramento da capacidade de produzir e o estabelecimento de novos conceitos. 3 O homem em atividade torna-se capaz de entender-se por meio dos objetos e materiais que utiliza, que percebe e fabrica. Assim, perceber e perceber-se não são situações passivas, mas uma conquista ativa e crítica que envolve a tudo e todos no setting terapêutico ocupacional.
A ação terapêutica ocupacional traduz-se pela atividade-trabalho planejado e desenvolvido pelo sujeito. “O trabalho intelectual ou prático para ser efetivo tem que gerar comunicações plásticas ou verbais. Quando não se exterioriza perde-se na memória; não causa efeitos sobre o homem e o mundo. Torna-se ação inútil do ponto de vista transformador. Transformar é produzir, fazer circular conhecimentos.”4
“O trabalho é uma ação volitiva e intencional do homem sobre um material, a fim de conseguir um produto, pela sua transformação, para satisfazer uma necessidade. O trabalho eminentemente humano, traz gratificação, confere status ao trabalhador, dá-lhe (...), identidade social, poder, reforço a individualidade e oferece condições de sobrevivência.”5 De acordo com o senso comum, o homem que não dispõe de recursos para promover sua subsistência é considerado dependente, e a condição de dependência ou autonomia de um homem relaciona-se com seu estado de saúde ou doença. “Um homem desvitalizado, sem ter um sentido para a sua vida, um doente.”6
O desenvolvimento das atividades na Terapia Ocupacional permite o reconhecimento pelo paciente de suas próprias habilidades motoras, cognitivas, sensoriais, artísticas, entre outras, anteriormente desconhecidas ou pouco exploradas.
Assim, o trabalho em Saúde, e mais especificamente, o terapêutico ocupacional, pressupõe a necessidade de pesquisarmos nossos próprios valores, sentimentos e limites a fim de sabermos nos relacionar com o poder, o saber, o conviver, o crescer e amadurecer, que efetivamente não ocorre unicamente com o cliente, mas nos transforma em participantes de um processo interlocutivo. 7 Da mesma forma que a ação do indivíduo em tratamento o transforma, somos também transformados por nossas ações diárias.
Referências
1. NASCIMENTO, Beatriz Ambrósio do. .Ultrapassando o Modelo Biomédico. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Vol.2 – Nº 2 1991.
2. FUZIKAWA, Priscila Leiko. Uma contribuição para o entendimento da Terapia Ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional – Ges-to. MG. Ano VII – Nº 1- outubro/95.
3. VIANA, Ronaldo Guilherme Viteli. Terapia Ocupacional – Oficina do Homem se Fazer. Cadernos de Terapia Ocupacional. Ano VII – Nº 1 – Outubro/1995.
4. CHAGAS, Andréa Luíza Drumond das; FARIA, Maria Bernardete S. Roque de. Conhecimento-Produção-Consciência-Saúde – Uma Conexão Possível. Cadernos de Terapia Ocupacional. Ano VII – Nº 1 Outubro/1995.
5. PALHARES, Rosana; ARAUJO, Zachaber de. Terapia Ocupacional – Possibilidade de Ajuda. Cadernos de Terapia Ocupacional, Ano VII Nº 1 – Outubro/1995.
6. SCHINDLER, Victória J. Intervenão da Terapia Ocupacional Psicossocial com pacientes com AIDS. Traduzido por Cláudia Martinez e M. Luisa Emmel. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Vol. - 2 Nº 2 1991.
7. BRITTO, Luis Percival Leme. A Afasia do Terapeuta Ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Ano I – Vol. 1 – Nº 2 – Agosto/1990 Janeiro/1991.
8. OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criaão. Ed. Vozes – RJ. 1987.
sábado, 4 de agosto de 2007
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2 comentários:
Terapia Ocupacional é algo em expansão que deve ser tido cada vez mais em conta para o desenvolvimento bio-psico-social de cada ser humano!
Passem pelo meu blog sobre terapia ocupacional:
http://terapia--ocupacional.blogspot.com/
COmentem e divulguem!
COntinuem o bom trabalho
Bom dia!!!
Gostaria de saber onde eu posso fazer uma terapia ocupacional aqui no Rio de Janeiro, eu tenho esquizofrenia!!!
Obrigado!!!
Daniel.
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